Mulher

Publicado: 9 de março de 2016 em Uncategorized

Acordei hoje pensando em como homenagear a mulher. Só por ter escrito a palavra “homenagear” sei que terei alguns likes. A maioria nem vai parar para ler. Bonito, né? Homenagem… Mas pra quem ler, saiba que resolvi dar uma olhada no significado da palavra “mulher” no dicionário. O Michaelis define: “pessoa adulta do sexo feminino; rabo de saia, racha, rachada”. Oi? Das 13 definições ali colocadas, a maioria é relacionada ao homem ou tem conotação sexual.

Inclusive diz que mulher é um “Indivíduo homossexual que em uma relação sexual tem atuação passiva”. Oi de novo? Mas, beleza… não contente com essas incríveis definições, o dicionário também me conta o significado de várias expressões que utilizam a palavra “mulher”. Tipo: m. de rota, m. de rua, m. à toa e por aí vai… De 25 expressões, 13 são formas pejorativas para se referir à nós, mulheres. Pior, destas, 12 são sinônimos de prostituta. O final das definições no dicionário é magistral: uso irregular de mulher: “mulherão” e “mulheraça”.

Caraí… aí te pergunto. Todos os homens nasceram, sem exceção de uma mulher. Então como pode existir machismo? O que passa na cabeça de um homem achar que é certo manipular, usar, destratar, explorar, estuprar, torturar uma mulher só porque ela não é… um homem?

O dicionário me faz pensar que o termo mais correntemente usado pra definir uma mulher é o de prostituta. Acho mesmo que está na hora de assumir nosso papel de prostituta. E socar na cara da sociedade que ser prostituta significa que os homens estão pagando por nossos serviços, já que são tão indecentemente vazios que precisam pagar, exigir, mandar, manipular, humilhar a mulher para se sentirem alguém.

Vazios. Ocos. A maioria. Infelizmente.

Mas vou terminar homenageando uma mulher. Minha mãe. Que foi uma das primeiras jornalistas mulheres a trabalhar numa redação. Que “inventou” a página feminina. Que comandou durante 30 anos um suplemento que conversava com as mulheres. Tão boa na sua profissão. Mas absolutamente submissa no casamento. Um casamento de bosta. Mantido 20 anos. Minha mãe era respeitada por sua equipe – quase totalmente de jornalistas mulheres, onde era chamada de Lucinha. E chegava em casa, e era chamada de Maria. E tinha de dar conta do jantar, e da bagunça dos filhos, e do dinheiro pra escola, pra casa, pra tudo. E tinha de dar conta da “água com gás” que não podia faltar na mesa. Ou do café que tinha de ser novo na garrafa térmica.

Minha mãe que, em 30 anos, não mudou de emprego por medo de não ter como sustentar a casa. E trabalhou dia e noite quando meu pai estava desempregado. Minha mãe que fingiu não ver amantes e noites na boemia. Que levava a gente escondido no cinema e no teatro. Minha mãe que me mostrou que o caminho é a independência. E que mesmo cercado de gente, marido, filhos, você só tem a si mesma pra contar. Eu homenageio minha mãe. Seu pranto escondido. Suas noites solitárias. Suas reportagens nunca lidas pelo meu pai. Eu homenageio cada mulher infeliz que aceitou o papel de amante dele, somente para ser, como diz o Michaelis, uma prostituta. Somos mesmo grandes prostitutas. Só temos que aprender a cobrar melhor. Exigir nosso verdadeiro valor. Não deixar nem um pouco barato. Ainda mais para uma sociedade hipócrita acostumada a levar o que quer, de graça.

Ah, e só por curiosidade digita lá o significado de homem, também no Michaelis. Nenhuma expressão, nenhuma, nenhuma, nenhuma consta como pejorativa! E aí, cabe ou não lutar pelos mesmos direitos?

 

CARTA ABERTA PARA NECA…

Publicado: 1 de outubro de 2015 em Uncategorized

Ontem parei pra ouvir Bruce Springsteen. Ele já estava velho. E quando me peguei pensando, era na gente. E na Riveira Paulista. E nos fins das tardes de domingo a beira da represa, trocando toda a espécie de confidências e ideias de quem ainda não sabia nada, mas queria tudo. E lembrei do Johnny, do Kiko, e por aí vai. E me perguntei se você ainda tinha a mesma paixão pelo Springsteen. Sempre achei o Binho a cara, o jeito, sei lá dele. Será que era viagem minha? Talvez tivesse alguma semelhança… Não era por isso que você namorava com ele, não? Brincadeira…

Me lembrei da Swensens e do America, lá na época em que abriram… Você pagava pra mim às vezes. Só pra que eu fosse com vocês porque naqueles tempos tava f… em casa. Meu pai sem emprego, minha mãe trabalhando dia, noite e madrugada… Não me sentia bem por você me pagar, e depois de um tempo parei de ir. Mas cara, aquele sorvete da Swensens era impagável!

Lembrei da gente na sua casa ouvindo James Taylor e Cat Stevens. A gente tinha as “manhas” de achar Rod Stewart lindo? Eu hein… Ou era só eu que achava? E o Mick Jagger, que achava um tesão (e eu lá sabia o que era tesão? Rá!). Vocês tiravam um sarro da minha cara por isso, se lembra? Só sei que a gente ria muito, e falava muita merda, e sabia de tudo lá bem dentro do infinito de sonhos, e crenças e ideais e tristezas de cada uma.

E tinha o “bundinha”, lembra? Aquele garoto da escola, Carlinhos, se não me engano… De modo geral, parece que rolava na verdade algum tipo de obsessão por “bundinhas” – eram tantas coladas em calças jeans anos 80 – Springsteen e aquela garota que ele tirava pra dançar (a Mônica do Friends) que “devia ser você” (ou eu), Richard Gere e as forças do amor, destino, e gigolôs nus em filmes lindamente fotografados, mas sem quaisquer histórias…

Tinha aquele jogo de passar o papel e escrever – com quem, como, fazendo o quê e quando – e muitas gargalhadas (e no meu caso vergonha) na hora de ler o resultado final. Tinha meu amor platônico pelo João (aliás todos os meus amores eram platônicos, você sabe…) E outro meio que generalizado, de todas as garotas que moravam por ali, por aquele francês ou era italiano –Yacopo ou Jacob? – cara mais lindo jamais vi na vida…

Você também era linda, aqueles olhos de gata, uma boca de boneca, bem desenhada, olhar irônico, sempre uma resposta afiada. Inteligente pra carai… Às vezes, eu queria ser como você. Ser mais esperta, rápida. Eu era extremamente tímida. Perdi muito, muito tempo, sendo muito, muito tímida. E nariguda…

Mas tivemos três anos convivendo todos os dias, lado a lado. E foram tantos filmes, músicas, livros e descobertas. Às vezes, dá um aperto no coração. (em momentos de Bruce Springsteen, como os de ontem). E a vontade de voltar o tempo. Ou de, pelo menos, não ter perdido você, pela vida, por aí à fora. Que vontade de ter você por perto. Que saudades de verdade, Neca. De você. De mim. Da gente. Rindo juntas. Daqueles anos incríveis. Tão nossos. E da amizade infinita. E das lembranças e memórias de quando começamos a realmente ser. Alguém.

SE O MEU AMOR…

Publicado: 11 de setembro de 2015 em Uncategorized

Se meu amor fosse passado. Em ferro e fogo. Se queimaria. Nem uma chama. Nem uma brasa. Por mais perdida. Lhe sobraria. Se fosse pranto.

Era infinito. Se fosse luz. Era estrelas. Se fosse verde. Era florestas. Se fosse alegria. Era sol, era lua, era dia.

Se meu amor fosse presente. Feito um gole de aguardente. Me queimaria as entranhas. E gritaria, vivo, latente… que é pra hoje, que é pra agora. Eu e você. Talvez, pra sempre.

Mas meu amor já não existe. Não tem passado, não tem presente. Não tem João, nem tem Maria… Só a tristeza. De um rio corrente. No qual jamais navegaria.

NEGRO

Publicado: 11 de setembro de 2015 em Uncategorized

De um negro desejo de ausência. Um negro e longo desejo de ausência…
De um imenso desejo de adeus.
De quem chama por Jack, Allen, ou Neal. E caminhou por estradas vazias. E se entregou de bandeja. Tanto e sempre.
De quem foi até o fim.
De quem não passa de nada, nem alguém. De quem nunca passa. Nem vai passar.
De uma noite que chega gelada. Do sereno da madrugada. De um drink na boemia. De uma cidade que ronda e espreita. Fria…
De espíritos rústicos que dormem em sarjetas. De bêbados e drogados perdidos. Ali na “Craco”…
Da última ponta curtida. Da última azeitona da pizza.
De quem viu “dingos” morrerem sem casa. E vidas seguirem sem rumo. De homens, mulheres, crianças. Sem futuro.
De quem já foi noite. Já foi escura. Já foi sem lua.
De quem te conheceu no outono. Te protegeu no inverno. E na primavera partiu.
De quem sempre renasce. Das cinzas. De um dia. Nublado de blues. Em uma segunda-feira.
De quem será pra sempre ausente. De quem chegou, finalmente. Ao fim.

FODA-SE…

Publicado: 11 de setembro de 2015 em Uncategorized

Então, vou explicar um lance sobre mim. Não é que eu seja alienada. É só que tem certos assuntos que não me dizem respeito. Ao meu ver não deveriam dizer respeito de ninguém. Então, realmente, faço absoluta questão em não saber que Mani é um restaurante caro megadamoda ou que sei lá quem é a popuzuda da vez, ou que Kim Kardashiam está no Brasil. Nem sei quem é essa figura…. Não sei distiguir Bioncé de qualquer outra imbecil que cante e dance como ela. Não sei, não quero saber, tenho raiva de quem sabe… Não sei quem casou com quem e quem separou de quem. Não quero saber de lugares da moda ou pessoas da moda. Algumas coisas tenho que saber por causa da minha profissão. Gostaria eu de abordar as pessoas que tiram sarro porque nunca ouvi Valeska Popozuda se elas já ouviram falar de Chão de Estrelas, de Eduardo Gudin, Paulo Vanzolini, de Elizete Cardoso. Bom, duvido. Assim como duvido que tenham lido Shakespeare, Bukowski ou Kerouac. Quem já viu um filme Noir, conhece Bunuel ou leu O Capital? Não leu mas acha que sabe tudo sobre comunistas e cia… A ignorância impera neste país. Não existe mais conhecimento. Existe o cansativo conhecimento do agora. Este que faz as pessoas serem “cool”. Eu não quero ser cool. Quero ser eu mesma. Quero ter chapado na criatividade de Macunaíma e Memorias Postumas. Quero ter chorado com o Diário de Anne Frank. Quero ter lido todos os livros de Simenon. Quero que o conhecimento bizarro seja um dia somente isso, bizarro, e as pessoas mudem de canal, deletem, não percam tempo assistindo um vídeo da dança de sei lá que coreano, que já teve 1 bilhão de visualizações, menos a mihnha. Grito, clamo,e evoco por uma contra-cultura, já!!!!!!! Antes que seja tarde…

SOBRE PORTAS

Publicado: 11 de setembro de 2015 em Uncategorized

Confesso que tenho problemas com pessoas e portas. Explico. Não acho e nunca achei que homens devem abrir portas de carro, restaurantes, e outros, para as mulheres. Nem poderia, visto que, primeiro, isso não significa qualquer forma de “cavalheirismo”, é só mais uma convenção idiota de uma sociedade machista.

Temos toda a capacidade e inteligência necessária para fazer isso. O homem que faz, faz por obrigação. Ou para impressionar a dama, que, já, diga-se de passagem, se ficar impressionada deve ter algum problema sério de autoestima. Mas bom, o que me irrita, profundamente, são as pessoas – homens e mulheres – cuja dinâmica normal é a de esperar ao seu lado que você passe o crachá e então abra a porta para que eles passem.

Existe uma regra básica: bom senso. Você tem crachá, trabalha na mesma empresa, então faça sua parte. Um passa o crachá, o outro empurra a porta. Não cai a mão! É só uma questão de educação. Pronto. Não espere que eu passe cartão e abra a porta. Vou ficar com cara de banana, também esperando que alguém faça o mesmo por mim.

Mas tem algo que é pior que isso. A lei de quem entra primeiro no elevador e deixa a porta bater (ou fechar) na cara do outro. Não tem gênero. Todos já fizeram alguma vez. Muitas vezes sem pensar, sem querer. Mas não custa ser mais educado, segurar a porta e deixar o outro entrar antes de soltar na cara do próximo. Tenho um vizinho que faz isso. Sempre. Não só comigo, mas com a mulher e suas gêmeas. Chegou o elevador ele entra e taca a porta. Quer seja na cara de um estranho ou de sua mulher e filhas. É isso. Dane-se ele. Que a maldição da porta um dia lhe pegue a mão. A mim, só me resta seguir abrindo e fechando. Minhas próprias portas.

MULHERZINHA…

Publicado: 11 de setembro de 2015 em Uncategorized

Olhar de anjo. Força de pequena. Mulher. Que explode em mil vontades. De quem quer e não quer. De sim e não. De vou, não vou. Inteligência intuitiva de quem começou a viver cedo demais. E passou por coisas demais. E hoje questiona demais. E briga. E gosta da paz. E de ter direitos. Sem deveres. Que vive no seu mundo, de bichos, gatos e cachorros, de princesas e monstros, de fantasia… Onde o bem ainda vence o mal. E não há inveja, e não há ganância. Vaidosa, dos mil e um penteados, de saias, vestidos e bordados. De sorrisos e alegria. De vida. Pequena parceira. Que já é adolescente, mas ainda é menina. De quem dá boa noite. Todas as noites. De quem já começou cedo a ser. Alguém. Umma Oliveira Prado

MAIOR É DEUS…

Publicado: 11 de setembro de 2015 em Uncategorized

Quando ouvi essa música pela primeira vez, tinha então 10 anos de idade. Meu pai fazia, à época, um show com Eduardo Gudin e Elton Medeiros na Funarte. O show ficou alguns meses em cartaz. A música me arrepiou. Me fez pensar em uma situação que jamais havia conhecido. Afinal, morava lá no Morumbi, estudava em escola privada, nunca havia pegado um ônibus. De fato, por isso digo que a música brasileira me gerou, me criou, me moldou, me fez ser quem eu sou. Ser mais humana. Então bom dia pra todos que tem um lugar aquecido pra ficar neste frio de hoje. E praqueles dingos que moram debaixo da Praça 14 Bis, que vejo todos os dias a caminho do ônibus… Se eu fosse um velho ateu, também questionaria, assim como Eduardo Gudin II, melhor poeta paulistano (depois de Paulo Vanzolini), quem amo desde aquele primeiro show… Mas não questionaria Deus e sim a nós mesmos… Afinal o que estamos fazendo pra mudar isso?

MIÚDAS…

Publicado: 11 de setembro de 2015 em Uncategorized

Às vezes a gente perde o sono na energia que não se esvai apenas por perceber que tudo mesmo não passou de uma grande mentira. Ou um incalculável engano. Cara, como eu sou ruim em ler. Nas entrelinhas. Das letras miúdas do contrato.

SUARRRAAAAA…

Publicado: 11 de setembro de 2015 em Uncategorized

Se eu tivesse me casado… Qualquer dia, um daqueles. Quando éramos namorados. Teria sido uma linda festa. Naquela fazenda ao pé da serra de Penedo. Ou em Visconde de Mauá. Um lugar cheio de estrelas. E rios. E pedras. E cachoeiras. Se eu tivesse me casado. Não teria comes e bebes. Nem bem-casado ou véu da noiva. Teria breu iluminado pelos gravetos se queimando. E uma intensa fogueira cantaria em estalos os votos de bem me quer. E nós, mudos, ouviríamos o calor da cantoria. Sagrada. Quase que sussurrando “Suarrrrá…”. Se eu tivesse me casado não teria convidados. Nem padrinhos e madrinhas. Nem anel assim trocado. De qualquer frio metal. Se eu tivesse me casado, coroa de flores do campo, pés descalços, bata bordada. No cheiro molhado de mata. O seu corpo respirando bem pertinho de mim. Se eu tivesse me casado. Seria vida sem tempo. Seria forte. Compasso. Todo ele caminhado. Com você ao meu lado. Mas isso só mesmo, se eu tivesse me casado…