Acordei hoje pensando em como homenagear a mulher. Só por ter escrito a palavra “homenagear” sei que terei alguns likes. A maioria nem vai parar para ler. Bonito, né? Homenagem… Mas pra quem ler, saiba que resolvi dar uma olhada no significado da palavra “mulher” no dicionário. O Michaelis define: “pessoa adulta do sexo feminino; rabo de saia, racha, rachada”. Oi? Das 13 definições ali colocadas, a maioria é relacionada ao homem ou tem conotação sexual.
Inclusive diz que mulher é um “Indivíduo homossexual que em uma relação sexual tem atuação passiva”. Oi de novo? Mas, beleza… não contente com essas incríveis definições, o dicionário também me conta o significado de várias expressões que utilizam a palavra “mulher”. Tipo: m. de rota, m. de rua, m. à toa e por aí vai… De 25 expressões, 13 são formas pejorativas para se referir à nós, mulheres. Pior, destas, 12 são sinônimos de prostituta. O final das definições no dicionário é magistral: uso irregular de mulher: “mulherão” e “mulheraça”.
Caraí… aí te pergunto. Todos os homens nasceram, sem exceção de uma mulher. Então como pode existir machismo? O que passa na cabeça de um homem achar que é certo manipular, usar, destratar, explorar, estuprar, torturar uma mulher só porque ela não é… um homem?
O dicionário me faz pensar que o termo mais correntemente usado pra definir uma mulher é o de prostituta. Acho mesmo que está na hora de assumir nosso papel de prostituta. E socar na cara da sociedade que ser prostituta significa que os homens estão pagando por nossos serviços, já que são tão indecentemente vazios que precisam pagar, exigir, mandar, manipular, humilhar a mulher para se sentirem alguém.
Vazios. Ocos. A maioria. Infelizmente.
Mas vou terminar homenageando uma mulher. Minha mãe. Que foi uma das primeiras jornalistas mulheres a trabalhar numa redação. Que “inventou” a página feminina. Que comandou durante 30 anos um suplemento que conversava com as mulheres. Tão boa na sua profissão. Mas absolutamente submissa no casamento. Um casamento de bosta. Mantido 20 anos. Minha mãe era respeitada por sua equipe – quase totalmente de jornalistas mulheres, onde era chamada de Lucinha. E chegava em casa, e era chamada de Maria. E tinha de dar conta do jantar, e da bagunça dos filhos, e do dinheiro pra escola, pra casa, pra tudo. E tinha de dar conta da “água com gás” que não podia faltar na mesa. Ou do café que tinha de ser novo na garrafa térmica.
Minha mãe que, em 30 anos, não mudou de emprego por medo de não ter como sustentar a casa. E trabalhou dia e noite quando meu pai estava desempregado. Minha mãe que fingiu não ver amantes e noites na boemia. Que levava a gente escondido no cinema e no teatro. Minha mãe que me mostrou que o caminho é a independência. E que mesmo cercado de gente, marido, filhos, você só tem a si mesma pra contar. Eu homenageio minha mãe. Seu pranto escondido. Suas noites solitárias. Suas reportagens nunca lidas pelo meu pai. Eu homenageio cada mulher infeliz que aceitou o papel de amante dele, somente para ser, como diz o Michaelis, uma prostituta. Somos mesmo grandes prostitutas. Só temos que aprender a cobrar melhor. Exigir nosso verdadeiro valor. Não deixar nem um pouco barato. Ainda mais para uma sociedade hipócrita acostumada a levar o que quer, de graça.
Ah, e só por curiosidade digita lá o significado de homem, também no Michaelis. Nenhuma expressão, nenhuma, nenhuma, nenhuma consta como pejorativa! E aí, cabe ou não lutar pelos mesmos direitos?